14 maio 2007

#4

O som começa a fazer sentido. Lentamente, torna-se distinto: é o som de ondas.
O quanto a dor que a água fria lhe provoca teima em despertá-la.
Abre os olhos, e, por algum tempo, a luz é-lhe insuportável, precisa de algum tempo para se habituar à claridade. Por fim, vê-se numa praia.
Levanta-se da água: o frio a infectar-lhe os ossos, a rasgar-lhe os pés.
Passa as mãos pela cara, esfrega-a; despacha-as pelo cabelo.

Tenta concentrar-se. Nada faz sentido. Uma praia? Como?
Pensa, insiste: é difícil concentrar-se, a mente geme.
É então que uma sombra se apodera dos sentidos. A dúvida cresce, transforma-se em medo, o medo pinta-se de pânico. É difícil respirar, e o pouco fôlego que se apressa queima-lhe os pulmões.
Perde o controlo das lágrimas, deixa-se cair na areia.

A maresia impregnada na pele, as ondas que lhe lavam o vestido, o sabor quente do sol, a boca áspera do sal: nada disso existe agora.
Nada importa neste preciso momento, quando não consegue dar resposta ao que lhe foge pela voz:
- Quem sou eu…?

1 comentário:

Ana C. disse...

Muito, muito bom B.
As sensações são transmitidas de uma forma crua e real, faz-nos viajar até à cabeça dela, sentir o que ela sente, ver o que ela vê, mesmo o que não é descrito no texto. Deixa-nos curiosos sobre o q aconteceu, o que irá acontecer...
Já te disse que está muito bom? ;)