Que horas são, perguntou-se. Músculos adormecidos, o pescoço dorido, despertando aos poucos.
Mais um dia. Levantou-se, inconformado pelo dia começar onde os sonhos não acabam.
Espreguiçou-se. Vestiu-se. Lavou a cara; olhou-se culpado ao espelho. Estou a envelhecer, anuiu.
O almoço parecia bom. Aliciado, não comeu, devorou. Três minutos passados e arrependia-se da velocidade com que almoçou; o que esperava que lhe alimentasse a alma só lhe esvaziou o contentamento. Para a próxima almoço mais devagar, foi uma pena.
Computador. O seu eterno companheiro.
Um mundo de hipóteses, uma única situação real.
Não vou pensar nisso agora... Ah, apareceste finalmente, amiga, e de amiga tens tão pouco que nunca te vi, nunca conversámos nem nos rimos juntos; és um texto que me surge no ecrã quando espero que não o sejas.
Um possível encontro, e alegria por ter algo que fazer, por se sentir útil e necessário.
As horas que passam, o encontro que não se confirma.
Preciso ocupar o tempo de algum modo.
Como as teclas parecem suficientes. Agora que as usa parecem tantas e tão complexas. A música começa, num arranque mecânico. É preciso dar-lhe alma. A vontade de criar atropela-se. Muito melódica. Muito melancólica. Assim muito presunçosa.
Tanta hipótese, a dificuldade de escolha. Em breve, em breve...
Compras.
Tudo tão necessário, e tudo tão trivial. As coisas que as pessoas procuram e que não precisam. Que pensarão elas neste preciso momento? Como decidem o que lhes faz falta, o que as define? Sempre ocupadas, sempre em correrias. “O jantar que tenho que ir fazer, os miúdos que esperam por mim. Que perfume vou comprar, e será que passará a olhar para mim?” Será que estas pessoas param para respirar; será sequer que se lembram que respiram?
O jantar parecia bom. Contente, não comeu, devorou. Três minutos passados lembrou-se que iria arrepender-se. A alma descontente. Não consigo parar de me fazer isto...
Uma noite de café igual a tantas outras, como se de uma só noite infinda se tratasse. O frio do ambiente, as caras que não mudam, as expressões que tardam. Olá como estás, o quanto eu não me interesso.
A vontade de fazer algo, e a falta de ideias. Embaraçado por si próprio, não tarda em decidir-se a voltar a casa.
A viagem de carro é muito mais aliciante: uma estrada em frente, não se olhar para o que se deixa para trás, só um ser e o desejo de aventura.
Todos os caminhos vão ter à realidade; chega a casa.
Computador.
Conversas metódicas. O que tens feito? E então? Ilude-me, por favor, preciso de mais que isto.
Que horas são, perguntou-se. Músculos adormecidos, o pescoço dorido, adormecendo aos poucos.
Mais um dia. Deitou-se, inconformado pelo dia acabar onde os sonhos não começam.
Espreguiçou-se. Virou-se. Fechou os olhos; olhou-se, culpado. Estou a envelhecer, anuiu.
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3 comentários:
Primeiras!! ;)
Já falámos deste texto, mas volto a dizer que gosto da sensação rotineira, do pequeno desespero dos ciclos diáros. Espero que não fiques por aqui e que o Pausa pra café tenha uma vida longa. *
(E que a parceria criativa n morra nas palavras q trocámos :P)
Boa literatura, com um indisfarçável fundo autobiográfico, parece-me. Em ficção as emoções pintam-se não se revelam. Vou voltar.
Vou comentar,a teu pedido, mas tem de ser com algumas bimbices não??não???ohhhhhhhhhhhh
então não comento, porque uma bimba só diz bimbices :P
O melhor deste blog: a foto , definitivamente a foto, tirada por quem?pela bimba! este comentário vai ser apagado porque o senhor intelectual vai dizer: epá não vou deixar esta bimbalhada no meu blog lololol
beijinhos da bimba
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